Gula não é comer muito. Gula é, ao comer, buscar
desordenadamente o prazer natural e sensorial.
A gula não está ligada ao quanto você come, mas ao porque
você come.
"A gula é o abuso de algo essencial à existência humana" – Os Guinness
Os prazeres mais difíceis de controlar são aqueles naturais,
os companheiros da vida.
A armadilha consiste no fato de que as coisas
imprescindíveis à nossa existência, como o sexo e o alimentar-se, são
prazerosas. Se não fossem prazerosas, não praticaríamos, e nos extinguiríamos.
Provérbios 23:5, a passagem bíblica mais expressiva sobre isso, mostra as conseqüências da gula:
“Por que fixarás os teus olhos naquilo que não é nada?”: a
ilusão e o vazio.
“Vomitarás o bocado que comeste”: a frustração e a culpa.
“Perderás as tuas suaves palavras”: a perda do juízo
“Não esteja entre os beberrões de vinho e os comilões de
carne, porque o beberrão e o comilão acabarão na pobreza, e a sonolência os faz
vestir-se de trapos”: preguiça, sono e incapacidade.
“Para quem é o sofrimento? Para quem são as lutas? Para quem
as feridas sem causa (feridas auto impostas)? Para quem os olhos vermelhos?
Para os que se demoram perto do vinho que se mostra vermelho, resplandece no
copo e se escoa suavemente. No fim, picará como uma cobra.”
O empanturrar-se gera um estado de torpor, que mata aos
poucos.
Os Guinness diz: “Os glutões, ao reduzirem toda a comida a uma
lavagem, assemelham-se a porcos. Não apreciam, apenas devoram."
A gula subverte valores ao colocar a experiência física
acima das outras experiências. Da mesma forma que uma mulher sofre mais por
dois quilos a mais do que por ser egoísta, por exemplo.
A gula é perigosa porque conspira contra a vida ao nos
colocar em constante estado de policiamento contra o prazer, como se ele fosse
errado.
O mais evidente sinal de glutonaria é a necessidade de dieta.
Quando a gula foi acrescentada aos pecados capitais, o problema
realmente era a obesidade mórbida. Os senadores de Roma contratavam escravos
para andarem a frente deles, mas de costas, segurando-lhes a pança, para eles não
terem problemas de coluna.
Hoje, como não é politicamente correto ser um glutão, o
problema maior é a gula da delicadeza (como chama C. S. Lewis), não tanto a
gula do excesso.
Cometer a gula da delicadeza é continuar escravo da comida,
porém, posando de controlado. É aquela pessoa que já comeu cinco pedaços, e
pede para alguém rachar mais um com ele, pois sabe que pegar o sexto é demais,
mas não quer parar de comer. É alguém que é “virtuoso e comedido”, mas não fica
sem. É escravo daquela “metadinha”.
Glutão também é aquele que doentiamente vigia seu comer e
seu beber.
A resposta merecida à gula é a temperança, domínio próprio,
moderação. O sábio é aquele que sabe desfrutar do objeto de prazer antes que se
torne fastio. Não se trata de desfrutar menos, mas desfrutar melhor. Melhor,
porque desfruta ao mesmo tempo sua própria liberdade. Que prazer é poder comer,
tendo a possibilidade de parar quando quiser!
Martinho Carlos Rost diz: “Prazeres mais puros, porque mais
livres”
Aristóteles: “entre
os dois abismos opostos da intemperança e da insensibilidade, entre a tristeza
do desregrado e a do incapaz de gozar, entre o fastio do glutão e o do
anoréxico. Que infelicidade suportar seu corpo! Que felicidade desfruta-lo e
exerce-lo! Ser temperante
é poder contentar-se com pouco; mas não é o pouco que importa: é o poder, e é o
contentamento.”
Nesse post eu escrevi as coisas que achei mais interessantes nesse áudio sobre os 7 pecados capitais do Ed Rene Kivitz:
https://www.youtube.com/watch?v=tujh9YnsDaI