quarta-feira, 30 de abril de 2014

SQUARSPIRATION

Aqui, nada de thinspiration


SÓ AS LINDAS E QUADRADINHAS QUE NEM EU *-*






Gordo de comer gelado

Uma vez um amigo meu falava mal de gordo enquanto dirigia. Nunca me esqueço da expressão que ele usou para causar o efeito máximo do cúmulo da gordisse: “mas daqueles gordos de comer gelaaado!”. Eu olhei pra ele com uma cara de espanto. Eu me espantava por que não achava que comer gelado fosse uma gordisse tão desesperada assim. Ele achou que meu espanto era de imaginar que alguém cometeria tamanha gordisse, e falou: “sim!!! Tem gente que vai na geladeira e come comida fria mesmo! E de pé! Nem senta pra comer!”

Eu fiz silêncio. Um sereno silêncio.


Por dentro eu explodia: “PU-TA-QUE-O-PA-RIU. ISSO É DESESPERO DEMAIS?? E TIRAR COMIDA DE DENTRO DO LIXO DA COZINHA PRA COMER? ESSE GORDO PELO MENOS ESTÁ DE PÉ! E EU QUE JÁ COMI DE JOELHO PRA COMER COMIDA DO CHÃO?? O que é isso pra você então? E eu que já comi todas as pelancas de carne de uma sacola que meus pais trouxeram de um churrasco de 30 pessoas pra dar pra Capitu? Simplesmente, vai se fuder.”


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sentindo no couro a primeira crise de abstinência

Por volta dos 18 anos, comecei a piorar significativamente. Tudo perdeu a lógica. O leite condensado que eu encontrava na despensa, eu comia. Então eu comprava outro para repor antes que alguém desse falta, mas comia. Então eu comprava outro para repor, mas comia. E aquilo não tinha fim, e eu estava aos meus próprios cuidados. Eu ainda não sabia que era viciada. Eu achava que não conseguia parar porque não tinha “tentado bem tentado”, e eu estava sempre “tentando”, cheia de culpa e frustração.

Graças a Deus, minha mãe me pegou no quarto comendo um saco de farinha branca pura (com uma garrafa de água para a farinha poder descer), então tivemos uma conversa triste e franca. Enfim, eu tinha alguém para me acorrentar, algo que eu precisava com urgência. Não sabemos o tamanho da nossa dependência, até tentarmos nos livrar com todas as forças, e fracassarmos. Nesse momento, eu vi como eu era doente. Passava o dia engolindo a seco e pensando na comida como se tivessem arrancado um pedaço de mim. A sensação do estômago fazendo uma digestão normal me assustava, pois até então eu só sabia o que era ter o estômago completamente cheio ou completamente vazio. A única coisa que me aliviava era pensar que por todo aquele esforço de abstinência, eu iria me premiar, após um ou dois dias, com adivinha o que? Com mais uma orgia alimentar! Por que dela, por ela e para ela são todas as coisas... Uma orgia alimentar era sempre um evento sagrado e muito esperado.


Ex alcoólatras falam como o importante é evitar O PRIMEIRO GOLE. O primeiro gole é sempre o dispositivo que faz tudo ir por água abaixo. Mas como evitar a primeira mordida em um alimento? Vocês têm noção do quanto é difícil encarar meu fantasma 5 vezes por dia? Muitas vezes eu desejei que existisse uma clínica de recuperação para isso, mas não existe. Um SPA seria perfeito, para quem tem dinheiro e tempo.


E a doença continuava... com menos frequência, mas com muito mais tensão. Descobri que a doença não estava apenas no procedimento que a caracterizava, mas sim na minha mente. O NÃO comer-e-vomitar é tão desesperador quanto o comer-e-vomitar. Uma simples roda de amigos com um petisco no meio da mesa é a situação mais penosa para mim. As pessoas conversam... e aquela presença no meio da roda me rasga... eu olho para elas jogando conversa fora, e queria tanto ser normal como elas... mas comer coisas gostosas junto com as pessoas só desencadeia no seguinte pensamento: "uma hora eu compro 500 disso pra comer sozinha". E mais uma meta doentia se instala na minha lista imaginária, e aguarda o grande dia...




Durante o processo de paranoia, eu evitava os conhecidos na rua, não cumprimentava. Se estava em casa, não atendia o telefone. Uma vez, no meio de uma orgia alimentar, meu namorado chegou à minha casa sem avisar. Aquela foi a primeira e única vez na minha vida que eu encostei em um ser humano durante uma crise. Quando eu senti a pele dele na minha, foi como se algo em mim fosse desconstruído e depois recriado. Não sei como, mas foi realmente um abraço do outro mundo.



 Não sei se vocês sabem quem é a morena dessas fotos. É Millie Brown, uma artista que pinta quadros com o próprio vômito, que foi convidada pela Lady Gaga pra vomitar em cima dela durante um show. Sem comentários... bizarrice maquinada, bizarrice atingida. Nunca tinha visto isso sendo explorado de forma comercial...



VÍCIO: o vírus da metamorfose




Quando uma mania vira verdadeiramente um vício?
Quando essa mania passa a prejudicar outras áreas da vida. Essa foi a melhor definição que já vi. Quando o hábito extrapola seu limite natural, é porque não se tem mais controle sobre ele, e ele vai tocar sua saúde, seu rendimento profissional, sua vida social e familiar e o pior: seu caráter.
Veja como a bulimia se alastrou por cada esfera da minha vida.

SAÚDE: virando zumbi
Vi uma conhecida ir internada após um ano dessa prática. Noto que o anseio desenfreado pelo emagrecimento é muito mais perigoso do que o anseio pela comida. No primeiro caso, cada pequena quantidade de comida é expelida, então o ácido passa muito concentrado pela garganta, machucando-a, e a deficiência nutricional é muito maior. No meu caso é diferente: o ácido vem tão diluído em comida, que nunca me machucou, mas mesmo eu não apresentando deficiência calórica, e tentando compensar o desfalque nutricional comendo de forma saudável depois, sei que não é o suficiente. Posso pagar caro no futuro, pois a carência nutricional é cumulativa ao longo da vida, e a fraqueza, tremores no corpo e dores no coração devem estar ligados à falta de nutrientes. As pintinhas de sangue ao redor dos olhos acusam a pressão que o rosto sofre, e os dentes vão perdendo o esmalte que nunca voltará a ser o mesmo. A erosão ácida nos dentes também pode ser provocada por refrigerante, frutas e vinagre. Nunca se deve escovar os dentes logo após acidificar a boca. Deve-se apenas enxaguar, e esperar 15 minutos para escovar (meu pai dentista vive batendo nessa tecla).

RENDIMENTO: dormindo no vaso
Já aconteceu de eu pegar carona para o campus universitário com a minha mãe, chegar lá, e simplesmente dar meia volta e pegar um ônibus para uma lancheria durante uma aula importante. O que dirá chegar atrasada... Isso virou regra. No meu estágio, eu chegava quase todos os dias direto de uma crise bulímica, que causa um sono incontrolável. Eu ia para o banheiro e dormia sentada no vaso.

AMIGOS E FAMÍLIA: perdendo-os
Uma vez, minha irmã me apresentou a um amigo inconveniente que me cumprimentou assim: “Oi, prazer. O que você tanto faz LÁ EM CIMA??”. Eu falei que não entendi, então ele explicou: “É que a tua irmã disse que VOCÊ NUNCA FICA JUNTO COM A FAMÍLIA. Você está sempre fazendo alguma coisa... lá em cima”. Eu realmente era muito ausente, pois estava ocupada me destruindo. Quando ela descobriu meu problema, disse que por um lado era bom saber que eu não era ISOLADA por querer.
Ninguém pode se julgar uma pessoa “menos ruim” porque não faz nada de mal para os outros. NADA QUE VOCÊ FAZ CONTRA VOCÊ MESMO, CAI APENAS SOBRE VOCÊ. AS CONSEQUENCIAS TOCAM AQUELES QUE ESTÃO AO SEU REDOR. Minha mãe pode ter me ajudado, mas duas psicólogas acharam que ela precisava mais de terapia do que eu, pois ela se encontrava muito abatida, explosiva e sem saber como lidar.
Na aula, eu freqüentemente chegava com o raciocínio lento, com dificuldade de conversar, com medo de sentirem algum cheiro em mim, e mal arrumada por falta de tempo (tempo que a bulimia roubava). Então, novamente, eu me fechava. Porém, quando a marcação em casa apertou, passei a comer na rua mesmo. Eu mamava leite condensado na frente das vizinhas, comia ininterruptamente barras de chocolate durante toda a ida de ônibus até a faculdade, no meio de todos os outros universitários, e vomitava nos banheiros do prédio, mesmo que o lavatório fosse externo ao boxe sanitário! Independente de alguém ter me observado ou não, eu já me colocava no papel de “UMA LOUCA QUE NÃO VAI CONSEGUIR AMIGOS POR AQUI”.

CARÁTER: momentos de ladra
Eu acredito no respeito que um ser humano deve ao outro, nos mínimos detalhes. Mas o vício pode desfigurar o caráter de alguém. Quando se trata de comida, EU SEMPRE MINTO: não fui eu que comi. Não fui eu que gastei. Não estou com fome.
Teve um momento em que eu pedi para meus pais TRANCAREM A COMIDA na despensa. Meu pedido era genuíno. Mas aquele CADEADO nunca pôde comigo. Eu descobria a senha, seja por tentativa e erro ou por dedução. Na falta dos dois, eu dava um jeito de retirar o cadeado fechado mesmo, e devolver como se nada tivesse acontecido. Às vezes, eu tinha um momento de lucidez e denunciava a mim mesma, para que eles reforçassem a segurança. Outras vezes, não.
Outro pedido que fiz foi que eles controlassem meu DINHEIRO por um tempo. Esse pedido também foi legítimo, mas antes eu nunca tivesse aberto a boca. COMECEI A ROUBAR. Mercados grandes ou pequenos, não importava, as câmeras sempre têm um ponto cego. Eu gostava de pensar que, alguma dignidade eu ainda devia ter, então eu roubaria os produtos mais baratos possíveis, como as rapaduras. Doce enganação. Eu acabava não resistindo aos chocolates. Que ridículo seria alguém pegar uma moça nada pobre larapiando bolachinhas no mercado. Simplesmente patético.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Matadora de Psicólogas



Matei todas elas. Uma eu matei de susto, outra eu matei de desgosto, outra me entediou demais e a atual eu planejo matar por dinheiro. Ah, e no meio dessas mulheres, teve um homem que eu matei por prazer mesmo. Vamos aos fatos:

Psicóloga nº1, a BOCA-GRANDE: essa não fedia nem cheirava, até que a namorada do filho da empregada do marido dela veio me dizer que ela abriu a boca. Daí começou a feder. Quanta ética... ela me chamou no consultório para me pedir desculpas, dizer que entendia que a confiança havia acabado e que não ia mais me atender. A explicação dela foi que ela ficou tão preocupada com algumas coisas que eu disse, que teve que contar para o marido, e a empregada ouviu. A psicóloga se assustou com um problema... ta bom. Cobrou a consulta.

Psicóloga nº2, a VOVÓ-PERDIDA: essa me acompanhou por quase 4 anos. Desenvolvemos uma boa amizade. Sentia que ela não interferia muito, era bastante imparcial, mas eu respeitava o profissionalismo dela. De repente, ela sumiu. Eu tentava remarcar meu horário, que antes era fixo, mas ela não atendia ou dava desculpas. Assim foi por meio ano. Mandei um e-mail perguntando se ela estava bem, falei que entendia se ela tinha os problemas dela, mas eu tinha o direito de ter um retorno sobre o que estava acontecendo. Ela não respondeu. Até que minha mãe a encontrou na rua. Ela estava bem, mas só saiu pela tangente, e tentou amenizar dizendo que tinha escrito uma carta para mim. Nunca recebi. Mais tarde, conversando com psicólogas amigas e da família, a opinião unânime foi que ela se sentiu incapaz de resolver meu problema. Não deu conta. Desistiu. Ela não poderia me falar a verdade pra eu não desistir também. Vovó-perdida, eu ainda amo você.

Psicóloga nº3, a BURRA-GRAÚDA: essa foi escolhida devido à linha cognitivo-comportamental, considerada a mais eficaz para tratar transtorno alimentar. De graúda ela tinha tudo, a altura, a pose e o ego, manos a inteligência. Eu saía de lá me sentindo muito superficial. Todas as perguntas me pareciam sem propósito e todas as conclusões, absurdas. E o mais complicado, ela me intimidava. Mas fui confiando que talvez ela chegasse a algum lugar. Até que ela acertou em uma coisa: dirigiu o tratamento de forma multidisciplinar, como ele deve ser dirigido, e me encaminhou para uma nutricionista e um psiquiatra. O psiquiatra que ela indicou foi tão profundo e meticuloso, que comparar os dois foi a gota-d’água pra eu dar um fim naquele tratamento supérfluo com ela. Mandei um e-mail sincero e cuidadoso, dizendo que não estava havendo melhora ainda, talvez porque não tinha entendido o método de trabalho dela. Pedi que ela explicasse. Resposta: nem todos os pacientes se adaptam mesmo. Deixe o dinheiro na portaria.

                Psiquiatra, o PENSADOR-CASTRADOR: ele era fabuloso, reflexivo, e me receitou fluoxetina. Tomei por um tempo, e não sei dizer se funcionou para o que devia, mas com certeza me deixou muito distraída, mais do que já sou. Parei de tomar por conta própria, usando a distração como desculpa, mas o fato de me tirar os orgasmos pesou bastante também.


                Psicóloga nº4, a SUPER-NANNY: essa está tratando a família inteira (terapia familiar). Quando chegamos, ela falou com segurança que a família é um sistema, e que a bulimia é um sintoma desse sistema, e não de um indivíduo só. Achamos duvidoso, como se um indivíduo fosse totalmente coagido pelo meio. Mas ela nos provou ao longo do tempo sua teoria. Ela é espetacular e sabe exatamente aonde quer chegar e como chegar. Obteve resultados em pouco tempo. Mas o problema é o preço. R$250,00 a sessão. Pretendo reter o que alcançamos de bom, e tchau.

terça-feira, 8 de abril de 2014

16, Pregnant and Free

MARIONETE DA LOUCURA. É assim que eu me sinto. Muitas vezes, como se não houvesse solução. Porém, o que mais me intriga, é que JÁ FUI CURADA uma vez, POR UM ANO!
Como aconteceu:


Aos 16 ANOS, bulímica, ENGRAVIDEI do meu namorado. Enquanto a gravidez era apenas uma suspeita, pensei em ABORTO. Até que minha “ex-futura-sogra” me ligou dizendo que em meia hora passava para me levar para eu fazer o exame de sangue. Nesse momento, eu sabia que ou eu desmarcava dando alguma desculpa, ou eu ia para o exame E SEGUIA em frente com a gravidez. ABRI A BÍBLIA. Falei pra Deus: “Me convença, se puder”. Caí direto em Isaías 40:11.

Como pastor ele cuidará de seu rebanho, com o braço ajuntará os cordeirinhos e os carregará no colo; as que amamentam ele guiará mansamente.”

Então, como nunca fui das escolhas cômodas, e sim daquelas que prometem mudar minha vida para sempre, assumi a doce consequência que o destino me aplicava. Minha mãe se derramou chorando, meu pai paralisou, e eu achei que já tinha visto reações dolorosas o suficiente, até que minha irmã chegou tendo um ataque de gritos. Na escola, eu ouvia as pessoas comentando sobre mim no recreio, mas nada disso me abateu. Fui a grávida mais forte que já conheci.
Logo no início da gravidez, terminei com meu namorado. Ele era maravilhoso como namorado, mas eu não me via morrendo ao seu lado, então, o quanto antes eu o deixasse, menos ele se envolveria, e mais branda seria a separação. Nunca me arrependi. Hoje ele é razoavelmente presente.
ESPERANÇA. Esse é o SIGNIFICADO DO NOME que escolhi para a minha menina. No momento em que o exame deu positivo, passei a me alimentar impecavelmente bem. Durante a gravidez e a amamentação exclusiva, não houve uma recaída sequer. FUI FORTE POR ELA. Entretanto, depois desse período, talvez pela dificuldade de ser mãe tão nova e conciliar a faculdade, a partir dos 18 anos, fui piorando cada vez mais, e cheguei a 6 vômitos por dia.
O meu remorso era gigante quando eu saía do banheiro e olhava meu nenê largado na frente da televisão, onde teria ficado por duas horas enquanto eu comia. Eu não conseguia entender... eu fui forte enquanto ela dependia dos nutrientes do  meu corpo, mas ter tempo de qualidade com ela era tão importante quanto os nutrientes, porém, eu não conseguia mais...
Nessa época eu frequentava um grupo de estudo com as meninas da igreja. Ao final de cada grupo, podíamos fazer pedidos de oração. Até que eu resolvi abrir o jogo sobre meu vício, e pedi oração. Na mesma semana, minha MÃE DESCOBRIU meu problema e me ajudou a me reerguer. Mas isso já é outra história.



Hoje ainda vomito uma ou duas vezes por dia, mas minha Esperança está viva.
Minha ESPERANÇA cresce a cada dia.


domingo, 6 de abril de 2014

Do prazer do nescau ao massacre do arroz cru

OS QUATRO MOTIVOS DE POR QUE EU COMO E VOMITO

Esses são meus motivos atuais, não significa que todas as bulímicas sejam assim.
Sem compreender a raiz do problema não conseguimos mudar, mas não significa que no momento que compreendemos, estamos curadas... eu já saquei todo meu mecanismo, mas ainda estou lutando...

A divulgação é uma faca de dois gumes. Alguém pode imitar a estupidez, e alguém pode imitar a luta. Eu, por exemplo, só provoquei o vômito quando criança porque alguém me contou que isso existia... hoje sou adulta e ainda vítima de divulgação irresponsável. Mas torço para que consiga ajudar alguém a compreender a si mesmo.




4º – EMAGRECER.

Que raiva de quem já vai assumindo que esse é meu principal motivo. Que forma simplória de pensar... esse foi meu principal motivo na primeira vez que provoquei o vômito. Mas eu era uma criança, e formulava estratégias como tal. Sempre tento mostrar que meu problema é muito mais complexo do que isso, para parecer menos medíocre, falo que o vício é a comida, e que o vômito é apenas uma forma de não ficar de cama pelo resto do dia depois do abuso, mas aqui terei que confessar que o emagrecimento ainda tem peso, mesmo que muito pequeno. Confesso minha mediocridade.
                A princípio, o ato de expelir a comida ingerida antes de ser totalmente absorvida, emagrece. Se considerarmos um evento isolado, isso é uma verdade. Mas não é tão simples. Na verdade, o desenrolar da doença com todas a implicações psicológicas de compulsão, na grande maioria das vezes, não emagrece. Maior parte das bulímicas não é gorda nem magra.
                Tenho consciência de que seria mais bonita sem a doença. Como coisas muito calóricas durante DUAS HORAS antes de vomitar, então, com certeza, no mínimo uma hora de comilança eu já absorvi. Se eu parasse de comer no ponto do prazer e não passasse ao auto-massacre (quando não aguento mais e continuo comendo) e aí então, eu NÃO vomitasse, eu seria mais magra, porque o prazer nunca excede meia hora! Além do mais, já ouvi dizer que a doença desacelera o metabolismo, e me faz sentir fraca, dificultando a prática de esportes e queima de caloria.


3º – BUSCA DE PRAZER.

                “Você quer o prazer mas não quer as consequências. Puro gosto pela impunidade”. Por favor, gente, vamos mais a fundo nesse ponto. Não é nada prazeroso não poder se curvar por sentir que o estômago está a ponto de romper, e ainda assim continuar engolindo arroz cru porque é a única coisa que tem. Porém, até isso implica sim em busca pelo prazer.
                A doença pode estar ligada à falta de outras fontes de prazer, em pessoas anti-sociais, por exemplo. A comida acaba virando uma companhia, um consolo, um afeto. Outras vezes, as fontes de prazer podem estar todas lá, mas a pessoa simplesmente não as vive por inteiro, e continua insatisfeita.
                E é aí que comemos um sanduíche pelo carinho do pai, um biscoito pela compreensão da mãe, um pastel pela melhor amiga que não existe, uma colherada de nescau pela satisfação profissional, mas só o que pensamos e sentimos naquela hora é: sanduíche, biscoito, pastel, nescau... e aquilo é muito prazeroso, por isso continuamos, e continuando, a comida começa a dar nojo, mas ainda assim continuamos, em busca daquele prazer inicial que não encontramos mais, mas não paramos de procurar.


2º – FORÇA DO HÁBITO.

                Força do hábito. Vício. Todas as vezes que eu sinto minha alma curada de toda falta de aceitação do meu corpo e dos pensamentos negativos e mal resolvidos, e sinto que posso virar a página e ser livre, é o hábito que me aprisiona. O problema fez parte de mim por tanto tempo, que simplesmente não sei outra maneira de viver, e se tento imaginar, me sinto perdida.


1º – FUGA.

                O que faz criarmos um problema com nossas próprias mãos, como a bulimia, pode ser a fuga de um problema existencial maior e mais profundo, difícil de encarar.
                As vezes sinto que me desdobro tanto para ter jogo de cintura no dia-a-dia, atender a todas as cobranças, engolir desaforos pela boa convivência, e trocar alguns sonhos por um lugar de segurança e frio, e sou tão boa nisso tudo, e ser boa acumula tanta tensão, que essa tensão precisa ser descarregada em algum lugar.



sábado, 5 de abril de 2014

A minha relação com a comida é uma putaria

Aparentemente, eu sou normal, toda “geração saúde”, levando frutinhas pra comer no intervalo da faculdade, vestida de suplex pra ir direto pra academia e levando um corpo nem gordo e nem magro.
Mas, na verdade, vivo dissimulando um comportamento anormal. Tenho embalagens de bolacha recheada e leite condensado escondidas pelo guarda-roupa. Todas vazias, porque esse negócio de guardar comida para próximos episódios hiperfágicos está fora da minha capacidade. No momento que eu tentar guardar, elas já se encontram vazias.
Ás vezes encontro uma colher suja perdida no meio dos meus cadernos e farelo de pão dentro das bolsas. A minha relação com a comida é uma putaria.
Desenvolvi habilidades muito estranhas, como enfiar qualquer coisa dentro da garganta. Com o tempo, o dedo parou de fazer efeito, e eu passei a precisar de algo introduzido profundamente para ocasionar o vômito. Em casa, é a escova de dente, que já está ficando curta. Fica apenas uma pontinha pra fora da goela, pra que eu possa segurar. Meu medo é que um dia a escova escape e vá parar no meu estômago. Essa vai ser difícil de explicar. Fico imaginando também se não estou comprometendo o mecanismo abre-fecha da epiglote...
Fora de casa, sem uma escova de dente, preciso improvisar. Já entrou cabo largo de pente, e até faca... o único talher à disposição no momento. Já entrou escova de dente alheia também... alguma bulímica já frequentou sua casa? Cuidado! Hahahahahha O que me consola é que também consigo fazer garganta profunda às vezes. Mas não precisa ter bulimia pra ter essa habilidade: treinar direto no pau é melhor!
Outra habilidade estranha: vomitar falando normalmente nos intervalos entre um jato e outro, para conversar com a minha mãe do outro lado da porta. A conversa é meu álibi. Só falta vomitar cantando e sem desafinar.
A habilidade mais óbvia de todas é a capacidade do estômago. Depois de tanto sofrimento, eu merecia o primeiro lugar em um campeonato de quem come o maior número de xis (com prêmio em dinheiro). E vale a pena ter uma barriga dilatada pra isso?


Quero finalizar esse texto cínico registrando aqui meu sentimento mais constante: TRISTEZA. TRISTEZA DE OLHAR PRA TODOS OS MEUS SONHOS, OS QUAIS EU SÓ ALCANÇAREI ATRAVÉS DE UMA CONSTRUÇÃO DIÁRIA, E SABER QUE EU PEGO A ENERGIA NECESSÁRIA PARA ESSA CONSTRUÇÃO... E DOU DESCARGA NELA.