domingo, 6 de abril de 2014

Do prazer do nescau ao massacre do arroz cru

OS QUATRO MOTIVOS DE POR QUE EU COMO E VOMITO

Esses são meus motivos atuais, não significa que todas as bulímicas sejam assim.
Sem compreender a raiz do problema não conseguimos mudar, mas não significa que no momento que compreendemos, estamos curadas... eu já saquei todo meu mecanismo, mas ainda estou lutando...

A divulgação é uma faca de dois gumes. Alguém pode imitar a estupidez, e alguém pode imitar a luta. Eu, por exemplo, só provoquei o vômito quando criança porque alguém me contou que isso existia... hoje sou adulta e ainda vítima de divulgação irresponsável. Mas torço para que consiga ajudar alguém a compreender a si mesmo.




4º – EMAGRECER.

Que raiva de quem já vai assumindo que esse é meu principal motivo. Que forma simplória de pensar... esse foi meu principal motivo na primeira vez que provoquei o vômito. Mas eu era uma criança, e formulava estratégias como tal. Sempre tento mostrar que meu problema é muito mais complexo do que isso, para parecer menos medíocre, falo que o vício é a comida, e que o vômito é apenas uma forma de não ficar de cama pelo resto do dia depois do abuso, mas aqui terei que confessar que o emagrecimento ainda tem peso, mesmo que muito pequeno. Confesso minha mediocridade.
                A princípio, o ato de expelir a comida ingerida antes de ser totalmente absorvida, emagrece. Se considerarmos um evento isolado, isso é uma verdade. Mas não é tão simples. Na verdade, o desenrolar da doença com todas a implicações psicológicas de compulsão, na grande maioria das vezes, não emagrece. Maior parte das bulímicas não é gorda nem magra.
                Tenho consciência de que seria mais bonita sem a doença. Como coisas muito calóricas durante DUAS HORAS antes de vomitar, então, com certeza, no mínimo uma hora de comilança eu já absorvi. Se eu parasse de comer no ponto do prazer e não passasse ao auto-massacre (quando não aguento mais e continuo comendo) e aí então, eu NÃO vomitasse, eu seria mais magra, porque o prazer nunca excede meia hora! Além do mais, já ouvi dizer que a doença desacelera o metabolismo, e me faz sentir fraca, dificultando a prática de esportes e queima de caloria.


3º – BUSCA DE PRAZER.

                “Você quer o prazer mas não quer as consequências. Puro gosto pela impunidade”. Por favor, gente, vamos mais a fundo nesse ponto. Não é nada prazeroso não poder se curvar por sentir que o estômago está a ponto de romper, e ainda assim continuar engolindo arroz cru porque é a única coisa que tem. Porém, até isso implica sim em busca pelo prazer.
                A doença pode estar ligada à falta de outras fontes de prazer, em pessoas anti-sociais, por exemplo. A comida acaba virando uma companhia, um consolo, um afeto. Outras vezes, as fontes de prazer podem estar todas lá, mas a pessoa simplesmente não as vive por inteiro, e continua insatisfeita.
                E é aí que comemos um sanduíche pelo carinho do pai, um biscoito pela compreensão da mãe, um pastel pela melhor amiga que não existe, uma colherada de nescau pela satisfação profissional, mas só o que pensamos e sentimos naquela hora é: sanduíche, biscoito, pastel, nescau... e aquilo é muito prazeroso, por isso continuamos, e continuando, a comida começa a dar nojo, mas ainda assim continuamos, em busca daquele prazer inicial que não encontramos mais, mas não paramos de procurar.


2º – FORÇA DO HÁBITO.

                Força do hábito. Vício. Todas as vezes que eu sinto minha alma curada de toda falta de aceitação do meu corpo e dos pensamentos negativos e mal resolvidos, e sinto que posso virar a página e ser livre, é o hábito que me aprisiona. O problema fez parte de mim por tanto tempo, que simplesmente não sei outra maneira de viver, e se tento imaginar, me sinto perdida.


1º – FUGA.

                O que faz criarmos um problema com nossas próprias mãos, como a bulimia, pode ser a fuga de um problema existencial maior e mais profundo, difícil de encarar.
                As vezes sinto que me desdobro tanto para ter jogo de cintura no dia-a-dia, atender a todas as cobranças, engolir desaforos pela boa convivência, e trocar alguns sonhos por um lugar de segurança e frio, e sou tão boa nisso tudo, e ser boa acumula tanta tensão, que essa tensão precisa ser descarregada em algum lugar.



5 comentários:

  1. O pior é quando sabemos de nossa realidade e não conseguimos mais fugir dela!
    Os transtorno, são terríveis, seja eles qual for e, quem não sofre não vai nunca, NUNCA MESMO, entende ou se que compreender, talvez diga que aceite, mas no fundo é pura mentira, simplesmente somos taxadas de loucas, sem forças, desiludidas e ponto final! Mas como vc disse no primeiro post é pura tristeza.....

    Abraços,
    Lia*

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    1. olha nunca me senti taxada de louca por ngm, talvez por ainda não ter me exposto o suficiente pra isso, mas se alguém já me taxou de louca e sem forças, essa pessoa fui eu mesma... aí q tá o problema! Um bjãão Lia, valeu por comentar!

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  2. Ah também faço tabelas e gráficos, mas das minhas medidas corporais. E fotos(apesar de ultimamente não ter variado o peso significantemente entao sem fotos recentes). É uma obsessão. Também me pego muito pensando na força do hábito. Não sabemos o defeito que mantem o edificio inteiro em pé, não é mesmo?

    Interessante que o principal motivo seja a fuga. Porque indica onde mora a principal responsável pela cura também, na minha opinião. O dia que aprender maneiras diferentes de lidar com a realidade, pronto. (simples falar, claro. fazer são outros 500)

    Discordo do ponto "vítima de divulgação irresponsável". Pra mim não existe "informação" errada(e todo principio da censura).

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    1. boa noitee!
      sobre tua obsessão com monitorar o peso e tirar fotos, eu digo uma coisa, é como eu funciono, não sei se serve pra mais alguém, mas... noto que quando eu me desligo disso tudo, eu emagreço. esses tempos relaxei na academia, e meu namorado perguntou oq eu estava fazendo, pq eu estava mais magra. quando comecei tratamento dermatológico, fiquei mais espinhenta pq voltei minha atenção à pele, e passei a me beliscar mais... enfim, quando presto muita atenção em mim, em mim, em mim... me sinto um cachorro correndo atrás do próprio rabo, e isso nunca me faz bem...

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    2. enfim, precisamos aprender a olhar pra fora, encontrar motivos maiores pelos quais viver, e, como vc disse (CERTÍSSIMA), aprender a lidar com a realidade!
      sobre expressão e divulgação irresponsável... na verdade n tenho muito opinião sobre isso HAHAHAHAHA vc pode estar certa

      BJOSS!

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